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terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Enfermaria em Tite

A Enfermaria em Tite

Quando me lembro da Enfermaria em Tite, vem-me logo à memória o Heitor, furriel enfermeiro, um castiço, um amigo.
O Heitor

Era professor primário na vida civil, tendo sido posteriormente delegado escolar.
Não sei bem porquê ele foi para enfermeiro, mas talvez tenha sido escolhido pelo mesmo individuo que mandou o Pedro para a tropa e muitos outros, com surdez, falta de visão e outras faltas.
Mas o Heitor cumpria a sua tarefa na perfeição. Quando o médico não estava ele era o médico, o enfermeiro, o maqueiro, o servente que lavava o chão após tarefas de socorro de extrema gravidade. Era o homem dos sete oficios.
À porta da Enfermaria - o Heitor é o primeiro da esquerda e logo a seguir o médico, juntamente com os restantes elementos do corpo clinico.

Quando estive com o paludismo, ele foi o homem que me salvou – durante nove dias estive a pouco mais de pão e água com limão, além de doses infernais de quinino que ele me obrigava a tomar sem apelo nem agravo. O Monteiro, Arrabaça, Rosa, Ramos, lembram-se do meu estado debilitado nessa altura. O Rosa até costuma dizer que pensava bem que eu não me safava... Mas safei graças ao Heitor.
Desabafou comigo tantas vezes, o quanto lhe custava ver morrer um companheiro, socorrer feridos graves no meio de sangue, ligaduras e seringas, soro, pensos e gritos. O Heitor, embora não parecesse, sofria muito com o sofrimento dos outros. Mas era um homem que se transfigurava nos momentos de socorro e tinha uma energia do tamanho do mundo e nas alturas em que o trabalho apertava, punha fora da enfermaria tanto o soldado como o comandante.
Lembro-me, entre outras coisas, dum companheiro que pisou uma mina logo ao sair do arame farpado, de outro companheiro que levou um tiro acidentalmente na caserna, dado por outro companheiro, do acidente do alf. Carvalho na pista de aviação, do outro acidente do Victor junto à Mesquita, do acidente do Rato na estrada para o Enxudé, dos vários acidentes e ataques na estrada de Nova Sintra, mortais ou não. Tantas situações em que o Heitor estava sempre presente.
Foi dos homens que mais afectado ficou no fim da nossa comissão em Tite. No fim da comissão era outro homem.
O Jock com o Guedes

E como se tudo isso não fosse suficiente, quase no fim da comissão, envenenaram-lhe o seu cão, o Jock, animal inteligente, dedicado, um fiel amigo, a que também me dediquei.

Que pena temos que o Heitor já não possa participar nos nossos encontros.
Um abraço Heitor, até sempre!
LG.

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